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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Peço licença para roubar um texto...

... e postar aqui.
Alguém da minha lista de amigos do Facebook compartilhou, eu li e achei maravilhoso.
O tema: o assassinato do estudante na porta da sua casa por um marginal prestes a fazer 18 anos.
A fonte: essa aqui https://www.facebook.com/ithamar.lembo/posts/10152749990725112

Enjoy!

Seu filho tem 19 anos, gente boa, educado, não dá trabalho, estudioso, simples, terceiro ano de faculdade e num determinado dia, chegando em casa as nove da noite, depois da faculdade, é abordado de forma violenta por um marginal de 17 anos que quer o celular.

Seu filho, menino consciente, bem orientado, leva um susto, mas não reage, não xinga, não resiste, não reage e entrega o celular calmamente. Mesmo assim, o "de menor", dá um tiro na cabeça dele. O corpo do seu filho cai na calçada e o "adolescente" se afasta "andando".

O pequeno deliquente pede pra sua mamãe levá-lo ao fórum porque ele quer se entregar, mas não quer que seja na polícia, por medo. Mamãe o leva até lá, ele assume o crime e é mandado pra Fundação Casa ( aquele depósito de pequenos marginais que não educa, não pune, não contribui PORRA NENHUMA pra acabar com a violência ) aguardando pra ver o que será feito com ele.

O filho da puta faz 18 anos amanhã. Mas quando cometeu o crime tinha apenas 17, então, é menor de idade e não pode ser julgado como um adulto. É um adolescente. Vai pegar aí uns 3 anos de Fundação Casa. Lá, se fingir ser bonzinho, volta pra casa da mamãe em menos de um ano e inicia sua vida adulta como PRIMÁRIO. Se continuar sendo o animal que é, sai em 3 anos, chefe de quadrilha, respeitado e pronto pra tirar a vida de outro filho.

Como você sabe que não vai acontecer porra nenhuma com esse lazarento, resolve que precisa fazer alguma coisa. Então decide que vai fazer um plantão na porta da Fundação Casa até delocarem esse animal pra algum lugar, ou suborna alguém de dentro, invade o lugar, sei lá... mas você só pensa que vai dar um tiro na cara do desgraçado que tirou a vida do seu filho de graça. 

Você seria preso, desgraçaria ainda mais sua família e ainda teria que ouvir um bando de imbecis, filósofos, sociólogos, psicólogos, políticos hipócritas e demagogôs, que você não tem esse direito, que isso não resolve, que na verdade, aquele que pra você é um assassino desgraçado filho da puta, pra eles é mais uma "vítima da sociedade", um coitadinho e que, provavelmente VOCÊ também é indiretamente culpado por esse estado e, portanto, pela morte do seu filho.

E no fim você não faz nada e é obrigado a assistir, passivamente, esse monte de merda, sair impunemente.

Aos hipócritas, demagôgos, defensores dos coitadinhos, fazedores de média, aproveitadores da desgraça alheia, filósofos, sociólogos, psicólogos cagadores de regras, moral, bons costumes, amor ao próximo, perdão e blá, blá, blá, desejo do fundo do meu coração que vocês todos vão PRA PUTA QUE OS PARIU!!!! Politicos e autoridades que não só não fazem porra nenhuma pra resolver essa situação, como também estão sempre metidos em crimes, podem fazer-lhes companhia.

Venham demonstrar suas teorias e defender sua posição humanitária no dia que VOSSOS FILHOS levarem um tiro na cabeça de um filho da puta desses, "vítima da sociedade".

Bom dia! Pelo menos pra você que consegue achar que isso não tem nada a ver com sua vida porque o filho não era seu.



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Todo o amor do mundo

Hoje eu vou dar uma interrompida na série 'Diário de viagem' para fazer uma homenagem mais que merecida.

Uma homenagem pra alguém que chegou na minha casa em meados de Setembro de 2001 só com 40 dias de idade, dentro de uma caixa de leite porque nós ainda não estávamos totalmente preparados para recebê-la.
Alguém que demorou pra aprender a dormir sozinha sem ninguém por perto ou um rádio ligado.
Que quando foi dar seu primeiro passeio no Parque do Ibirapuera, conseguiu escapar das mãos da minha mãe e foi mergulhar no lago atrás dos patos que lá estavam. E que quando via uma pomba na rua, saía correndo feito louca tentando caçá-la.
Que fazia festa, abanava o toco do rabo e saía latindo e correndo pela casa quando alguém abria a porta da cozinha e falava: oi Bella.
Que quando fazia xixi fora do lugar, sabia muito bem que tinha feito coisa errada e tentava amolecer a bronca com aquele olhar de baixo para cima, como que tentando dizer: me desculpa!
Uma homenagem pra alguém que mesmo passeando mais ou menos 20 minutos por dia, num caminho com muitas ladeiras ainda tinha energia o suficiente pra brincar quando chegasse em casa.
Alguém que uivava quando a gente dizia o nome dela em voz de ópera, fazendo um biquinho engraçado com a boca.
Que soltava pêlos por toda a casa, colocava o focinho no lixo quando íamos jogar algum resto de comida, tentando pegar alguma coisa com a língua. E a gente falava: caramba, parece vira-lata! E que quando voltava do banho, chegava em casa toda feliz e contente, pois sabia que todo mundo ia acariciá-la, pois ela estava extremamente cheirosa.
Alguém que adorava ir no colo e deixava a gente segurá-la como se fosse um bebê recém-nascido, nos olhando com uma pureza tão grande mas tão grande, que eu tenho certeza que se ela pudesse falar ela diria: obrigada por esse carinho. Aliás... eu sei que você estava pensando isso na segunda-feira quando fiquei te fazendo carinho.
Que sempre virava de barriga pra cima, esperando que a gente passasse a mão ou pé enquanto ela ia pegando pouco a pouco no sono. E ai se parasse o carinho, ela acordava na hora resmungando e pulando no nosso colo.
Que mesmo não gostando de tomar banho com a gente, ficava quietinha no chuveiro enquanto íamos passando o shampoo e enxagüando com a água quentinha.
Alguém que ficava com a patinha em cima da nossa mão, como querendo dizer: por favor, não para de me fazer carinho, tá?
Que adorava ficar deitada na porta do meu quarto ou ainda do lado da minha cama. E que dormia comigo, com a cabeça apoiada na minha bunda, me esquentando melhor que qualquer cobertor que existe no mundo. E agora que chegou o inverno, quem vai me esquentar desse jeito?
Que roncava quando dormia.
Alguém que nunca viu maldade nas pessoas, se abrindo com qualquer um que fizesse um aceno ou falasse: nossa, que bonitinha.
Alguém que conseguiu destruir TODAS as caminhas que teve ao longo desses 11 anos, porque ela não conseguia deixá-la no lugar. Ela obrigatoriamente tinha que carregar a cama pra todos os cantos da casa.
Alguém que eu tinha certeza que mais cedo ou mais tarde ia começar a falar comigo, de tão humana que ela era.
Que já estava ficando meio surdinha, mas ainda sim era só falar 'Bella' e ela vinha correndo.
Alguém que ficava atrás de mim ou de qualquer pessoa que estivesse em casa, nos seguindo por onde a gente fosse. Quantas e quantas vezes tropeçamos em você, porque você parecia a nossa sombra?

Enfim, essa é uma homenagem a alguém que foi muito amada, muito cuidada, muito querida, muito simpática. Mas mais que isso. Foi alguém que nos ensinou a amar e que vai fazer a maior falta do mundo!

Bellinha, eu te amo!
E espero que você tenha percebido isso enquanto viveu conosco!






sábado, 4 de junho de 2011

O fim de uma era


Chega a ser curioso como que mínimos detalhes me fazem lembrar que um período muito gostoso da minha vida acabou.

Ontem fui almoçar sozinha no Shopping Iguatemi. Me servi num restaurante qualquer por quilo e sentei numa mesinha do lado de onde tinha escolhido comer. Peguei uma sobremesa; uma gelatina - uma vez que eu estou num esforço danado pra continuar emagrecendo. Eu já tinha terminado de almoçar quando uma senhorinha muito arrumada perguntou se podia dividir a mesa comigo. A praça de alimentação estava lotada, afinal era 6ª Feira e eu estava sozinha, não tinha porque dizer não. Ela se sentou e começou a comer.
Foi quando eu abri minha gelatina. E reparei que ela era colorida. Era de morango em cima, aqueles cremes no meio e de limão embaixo. NA HORA eu me lembrei da minha avó. Olhei para a senhorinha, olhei para a gelatina e me deu um nó na garganta muito grande. Comi a gelatina segurando o choro e de repente foi como se um filme estivesse passando bem na minha frente.

Me lembrei das gelatinas coloridas que a minha vó sempre fazia quando eu era criança. Toda vez que ia visitá-la na praia, a gelatina estava lá me esperando. Eu ficava tão feliz, minha vó sabia disso. Tanto que a primeira coisa que ela dizia quando eu chegava em sua casa, era:
- filhinha, fiz gelatina colorida pra você.

Eu pulava no pescoço dela, tamanha era minha felicidade. E mesmo depois que eu cresci e me tornei uma adolescente insuportável que odiava reuniões familiares, ela continuava fazendo a tal gelatina, talvez na tentativa de me deixar animada por estar na praia ao invés de estar com os meus outros amigos adolescentes insuportáveis.
Me lembrei que eu nunca mais vou ter a gelatina colorida preparada pelas mãos dela. E foi só eu ter lembrado disso, que eu na hora comecei a contabilizar mais uma série de coisas, comidas, eventos que eu nunca mais vou ter.

As ligações nos meus aniversários. Eram sempre eles (meus avós) que ligavam primeiro. Se meu aniversário caísse num sábado eles me ligavam as 7:00 da manhã. Eu ficava meio puta porque queria dormir até tarde, mas meu avô sempre me acordava. Aliás, esse ano eu senti falta disso. Minha avó me ligou logo cedo, mas meu avô não pois fazia exatamente duas semanas que ele tinha falecido. Já consegui sentir o baque, a saudade... faltou alguma coisa.

Os natais. Eu sempre reclamava também. Reclamava das orações intermináveis do meu avô, reclamava das toalhas que minha vó me dava todos os anos, reclamava da falta de presentes depois que cresci, daqueles cultos caseiros que eles faziam depois da ceia cantando as mesmas músicas. Eu vou sentir falta de tudo isso. Vou sentir falta de ver meu avô tocando violino ao lado da minha mãe, que tocava teclado enquanto minha vó, minhas tias e a tia das minhas tias cantavam "Noite de paz". Vou sentir falta das toalhas, dos chinelos e dos panos de prato que a minha vó bordava. Inclusive, vou sentir falta do meu avô andando pela casa fechando todas as janelas - mesmo fazendo o maior calor do mundo lá fora - alegando que não queria mosquitos na casa.
Aliás, isso me lembra dele andando com o mata-mosquitos rosa que ele carregava pra cima e pra baixo, matando qualquer um que aparecesse na sua frente, rs.

A casa onde eles passaram os últimos anos da vida deles, na praia que já foi posta a venda. A casa onde eu passei tantos feriados, férias, finais de semana, dia das mães, natal, ano novo, aniversários... onde minha vó tinha o jardim dela que ela cuidava com tanto esmero. Cada vez que eu ia lá tinha uma flor nova brotando e ela vinha toda orgulhosa me mostrar. Onde meu avô mantinha uma oficina nos fundos do quintal e onde ele passava a maior parte do seu dia lá dentro fazendo sinos de vento, consertando nosso secador de cabelo e o que mais a gente pedisse.

As bicicletas dos dois ainda estão lá. A bicicleta roxa da Caloi que a minha avó usava pra ir no supermercado, ou passear comigo quando eu ainda andava de rodinhas nas laterais da minha bicicleta. Mas que aos poucos ela foi deixando de lado, parou de andar e passou a bicicleta pra mim. Aliás, foi meu avô que arrancou as rodinhas e me ensinou a andar que nem gente grande. Eu chorei, esperneei e gritei com ele. E ele com a paciência que só Deus mesmo, me ensinando até eu aprender. Todos os dias de manhãzinha, ele acordava, pegava a sua bicicleta e ia andar na praia de ponta a ponta. Depois parava, tomava uma água de côco, passava na padaria, levava pão fresquinho pra casa e tomava banho na ducha. Era a vida que ele amava.

E eu amava passar férias lá porque além de ter vários amigos, meus avós faziam de tudo pra me deixar feliz. Minha vó adorava emprestar uma cestinha de vime que ela tinha, só pra eu poder ir na pracinha perto de casa com os amigos e fazer pic nic.
As festas juninas que a gente fazia na rua... quem colava todas as bandeirinhas com a maior paciência do mundo? Era ela, claro.
Se fosse onze da noite e eu comentasse que tinha vontade de bolinhos de chuva, minha vó ia pra cozinha e fazia vários. Rosquinhas de nata, pãozinho de polvilho azedo, pipoca, suco de uva, bolo de macarrão, salada, suco de maracujá fresquinho... todas essas coisas que eu amava e me farão muita falta.

O cheiro deles, o abraço, a voz dos dois e até as lições de moral ultrapassadas que eles me davam. Quando eu penso que nunca mais terei nada disso, me dá um aperto no coração, as lágrimas aparecem de imediato, parece que me falta o ar.
Sim, são lembranças boas... mas justamente por serem boas que me deixam assim, feliz porém triste ao mesmo tempo. Porque eu daria tudo pra reviver cada momento desses.

Mas é o fim de uma época, talvez a melhor época da minha vida.
A época de que meus avós eram vivos e eles foram as melhores pessoas que eu já conheci.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Minha primeira grande perda


Na sexta-feira da semana retrasada era meu último dia de férias do meu trabalho e minha mãe me acordou da seguinte maneira: filha, se acalma.
Esse tipo de frase tem o efeito contrário. É a mesma coisa se eu disser: NÃO PENSE NUMA MAÇÃ. O que você vai fazer? Pensar em uma maçã, é claro.

Quando ela disse isso, eu dei um salto da cama. Minha avó (mãe da minha mãe) está doente, com anorexia nervosa, então todo mundo da família meio que esperava alguma tragédia.

- O que aconteceu mãe?
- Filha, fica calma, tá bom?
- MÃE, pelo amor de Deus o que tá acontecendo?

Ela não conseguiu segurar o tom de voz firme e foi chorando que ela me disse:
- Seu avô faleceu, filha.

COMO ASSIM? Meu avô? Até 10 dias antes ele estava aqui em São Paulo na minha casa, sorrindo, consertando um monte de coisa que estava quebrada no meu apartamento, fazendo minha avó comer. COMO?
Instantaneamente eu comecei a chorar. Comecei a chorar MUITO. Minha mãe me abraçou, meu padrasto entrou no meu quarto segurando um copo de água com açúcar na tentativa de nos acalmar:

- Como aconteceu, mãe?
- Ele não estava se sentindo bem minha filha. Disse a sua avó que seria bom os dois irem ao pronto socorro. Pegou o carro, andou 4 quadras, tirou o pé do acelerador, fez um barulho e morreu. Infarto fulminante, foi na hora.

Meu choro aumentou mais ainda. Fiquei imaginando minha avó, que anda tão fraca passando por isso, vendo o companheiro de 57 anos sem vida bem ao lado dela. Eu chorava, minha mãe chorava, o telefone não párava de tocar.
No mesmo dia, eu, meu pai e meu irmão fomos para Peruíbe. O velório seria no mesmo dia e sábado de manhã seria o enterro.

Quando entrei na casa dos meus avós (que estava cheia de parentes, amigos da Igreja e pessoas querendo dar uma força) e vi todos os instrumentos do meu avô do jeitinho que ele havia deixado (olhei um a um os instrumentos: os violinos, o teclado, o bandolim, a harpa que ele restaurou com tanto carinho), quando vi minha vó sentada no sofá com aquele olhar perdido e as pessoas em volta dela, a sensação que eu tive foi que entrei numa espécie de sonho bizarro. Não queria chorar na frente da minha vó, queria ser forte para poder consolá-la, mas quando ela veio me abraçar foi impossível controlar:

- Ana, você sabe que seu avô te amava muito, não sabe?
- Sei vó... eu também amava muito ele.

O velório foi horrível é claro. Entrar na Igreja onde meu avô ia todos os Domingos cheio de vida, com todos os hinos ensaiados para tocar lá na frente... entrar na Igreja e vê-lo deitado num caixão, sem vida, roxo, gelado, só a carcaça... não dava pra acreditar, simplesmente não dava! O tempo todo repetia pra mim mesma: essa é a cena mais surreal da minha vida.
Não consigo esquecer o rostinho da minha avó quando ela chegou perto do corpo do meu avô. Passava a mão no rosto dele, beijava sua testa e olhava fixamente para ele, acho que na tentativa de acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.

O pastor da igreja chorou ao tentar falar algumas palavras; meu irmão tentou fazer um discurso em nome dos netos, mas não conseguiu terminar. Em volta do caixão, fotos do meu avô VIVO. Tocando violino, tocando sua harpa, ao lado da minha vó, ao lado dos netos, ao lado das filhas. Eu olhava para o corpo sem vida e olhava para as fotos... tão diferente, tão triste.

No dia seguinte, o enterro. Quando você acha que não dá pra ficar pior, fica. Por mais que a gente saiba que aquilo que está no caixão não mais tem vida, é apenas o que restou da pessoa, dói muito quando precisa fechá-lo. Minha vó, pela primeira vez desde que meu avô tinha morrido, começou a chorar. O cortejo até o cemitério. Não podia estar acontecendo comigo. Eu sempre via essas coisas do lado de fora e dava graças a Deus por não passar por aquilo, por ter todos os meus avós vivos. O cemitério ele tinha escolhido um dia que foi passear lá com a minha mãe e minha tia. Falou que queria ser enterrado lá. Era um cemitério velho onde os mortos não são enterrados e sim colocados numa espécie de gavetinha. Minha tia uma vez disse:

- Credo pai, não quero enterrar você aqui. Que cemitério horroroso!
- Horroroso minha filha? Que nada! Olha que lugar lindo, no meio das montanhas, perto do mar

Minha avó passava a mão no caixão antes de ser enterrado e dizia: Tchau meu amor. Eu te amo, logo logo a gente se encontra. E chorava... que cena horrível!

Ficar na casa com a minha avó para fazer companhia não tem sido fácil. A presença do seu Nylthon é muito marcante em cada canto daquela casa. As boinas que ele costumava usar estão todas penduradas no mancebo, num canto da sala. O roupão continua na porta do banheiro. A oficina que ele tanto amava ficou do jeito que ele tinha deixado. Alguns canos estão cortados e amarrados em elásticos, pois ele estava construindo um daqueles sinos de vento, uma das especialidades manuais do meu avô. As fotos dele sorrindo estão espalhadas por todos os cantos da casa. A sensação que se tem é que a qualquer momento ele vai entrar pela sala e dizer:
- Oh netos... que bom ter vocês por aqui!




Mas apesar de toda essa tristeza, me consolo por algumas coisas:
- Meu avô morreu da maneira mais digna que tem. Sem dor, sem doenças, sem sofrimento e ao lado da mulher que ele mais venerava no mundo! Melhor que isso, só morrer dormindo.

- Alguns dias antes dele falecer, ele foi ao geriatra e tinha sido diagnosticado com Alzheimer. Uma das irmãs dele está numa casa de repouso há ANOS com esse mesmo mal e é tão triste você viver sem saber quem é, sem reconhecer a família, os amigos. Precisar de ajuda pra comer, ir ao banheiro, tomar banho. Meu avô não precisou passar por nada disso. A dor dele olhar para nós e não nos reconhecer seria muito mais doloroso do que a sensação que estamos tendo agora.

- Antes dele morrer, deu tempo de comemorar 80 anos ao lado dos amigos, bem, totalmente lúcido. Viajou para Buenos Aires com minha vó, minha mãe e meu irmão. Passou o Natal com a família, assistiu minha apresentação do TCC. Ele estava tão feliz que eu tinha terminado a faculdade, que o meu irmão ia começar a dele. E de quebra, ainda passou 10 dias aqui em São Paulo com a gente.



O que dói mesmo... é a saudade que temos de você, vô!

Nylthon Salles (09/11/1930 - 4/02/2011)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Baseado em cenas reais


Aquela mancha de sangue no asfalto me deixou meio mal. Fiquei tentando imaginar quem seria o dono daquele líquido vermelho.
Eu sou curiosa, e quando desci do ônibus e vi aquela cena e as viaturas, fui perguntar para o policial o que tinha acontecido. Primeiro quis confirmar: - Moço, aquilo ali é sangue? É sim, foi a resposta dele. Daí perguntei: - O que aconteceu? Ele me disse que foi atropelamento. Eu até quis continuar o interrogatório, mas acho que não teria estômago prá isso.

Fiquei imaginando quem teria sofrido o acidente. Seria um homem ou uma mulher? Um morador de rua talvez, que na tentativa de atravessar a Consolação super movimentada, foi acertado em cheio por um carro ou um ônibus. Poderia ser alguém que morasse nas redondezas, voltando cansado(a) do trabalho. Chegaria na sua casa, comeria qualquer coisa que tivesse na geladeira, assistiria o Paredão do BBB e depois iria dormir prá no dia seguinte começar tudo de novo. E se fosse uma pessoa de idade? Um velhinho, uma senhorinha cujo reflexos já não são como antigamente e não conseguiu escapar.
Mas de todos esses meus devaneios, o pior foi que poderia ter sido algum estudante. E da minha faculdade! Podia ter sido alguém que acabou de entrar no Mackenzie, feliz da vida por entrar na tão sonhada universidade e com as aulas e as novidades. Podia ter sido algum veterano, no seu último ano indo de encontro com seus colegas de grupo de TGI, dando graças a Deus por estar acabando... podia ter sido eu! Nunca se sabe.

(A mancha de sangue no asfalto realmente existiu e alguém foi mesmo atropelado na Consolação ontem no fim da tarde quando eu estava chegando na faculdade)