quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma reunião de família




Um dia eu me sentarei no chão da sala do meu apartamento localizado na Avenida Paulista com um ou dois filhos já adolescentes e contarei para eles sobre o dia 14/11/2011. De fundo musical vai tocar Faith no More, Down, Loaded e Alice in Chains. Bandas que eles já terão escutado por influência minha e que eu pude ver ao vivo no dia já citado.

Vou contar para eles sobre a viagem até a cidade onde foi realizado o evento (SWU, que provavelmente até lá já não mais existirá), sobre a chuva que caia farta na cidade e sobre eu e meus amigos ficarmos parados na porta do estacionamento esperando chegarem novas capas de chuva, mais resistentes e que nos deixariam menos molhados.

Contarei sobre a emoção de atravessar os portões do tal evento, o coração acelerado em saber que teria um longo dia pela frente de shows, emoções, músicas, lágrimas. Sobre a corrida até um dos palcos para ver o ex-baixista do Guns n’ Roses e sobre como eu me senti quando o vi em cima do palco cantando músicas como It’s so easy, So fine e Dust n’ Bones. Contarei como me senti quando ele desceu do palco e começou a tocar bem pertinho da gente que estava na passarela. E se eles duvidarem dessa história, terei uma foto para provar.

Depois narrarei sobre como sobrevivi às rodas de bate-cabeça durante o show do Down, a banda do vocalista daquela banda que canta Cowboys from hell e 5 minutes alone. Sobre como foi surreal vê-lo ali cantando só o refrãozinho de Walk. Tenho certeza que nessa hora, meus filhos arregalarão os olhos e falarão: nossa, que foda mãe! E aí?

Aí eu vou continuar contando sobre aquele dia. Da chuva que diminuiu de intensidade e ainda sim não parou de cair. Mostrarei fotos minhas usando uma capa de chuva amarela, do lado dos meus amigos – que eu fui encontrando um a um por lá, todo mundo com aquela cara boba de felicidade, meio que desacreditando que aquele dia estava realmente acontecendo. Contarei também sobre a aventura de usar um banheiro químico a noite, sem iluminação alguma e sem papel higiênico. Provavelmente eles vão falar: credo mãe, que nojo. Mas eu responderei: que nada. Isso tudo faz parte do roteiro de ir a um evento. Sem isso, não teria graça. Assim como não seria um festival completo sem a lama e o coturno que antes era preto e naquele dia ficou marrom.

Vou contar do cansaço nas pernas, a vontade de sentar em algum lugar para dar uma esticada. Mas falarei sobre isso com um sorriso no rosto, porque valeu a pena! Valeu a pena porque vi o Alice in Chains. E que depois do Alice in Chains, eu vi o Faith no More. Esmagada na grade, tomando chuva, pulando e cantando as letras a plenos pulmões. Compartilhando esse momento com alguns dos meus melhores amigos, que também sentiram o que eu senti. Vou contar sobre o momento que aquele vocalista louco foi lá pro meio, se jogou na galera enquanto cantava e que isso foi DO MEU LADO! E vou contar também sobre eu ter tocado o Mike Patton enquanto ele cantava. E aí, meus filhos provavelmente vão até perder o fôlego e vão falar: CA-RA-LHO MÃE! VOCÊ JÁ PEGOU NO MIKE PATTON!

Infelizmente não terei uma foto com ele para mostrar, mas tudo bem. Vi o show e foi isso que me importou. E aí, quando eles acharem que já acabou, vou finalizar a história contando sobre a dificuldade que foi tirar o carro do estacionamento, sobre os quase-atolamentos que sofremos. Contarei que dormi na viagem de volta, morrendo de sono e dor nas pernas. Que cheguei na cidade de madrugada e tive que pegar metrô de volta para casa. Sobre o longo banho que tive que tomar, afinal choveu o dia inteiro. E que só fui deitar na cama as 7 da manhã, depois de já estar 24h acordada.

Provavelmente a minha filha, puxando a mim, vai fazer cara feia e falar: credo, que preguiça passar por isso. Nunca que eu vou fazer algo do gênero. E eu, feliz da vida e cheia de boas memórias responderei: foi um dos dias mais divertidos da minha vida.

4 comentários:

  1. linda reflexão, claroca. gostei do tom dos seus textos. mostram uma sensibilidade que nem sempre dá pra perceber no dia a dia. it's clarinha beyond the surface, yeah!

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  2. Obrigada Flá!
    Passe sempre quando quiser :)

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  3. LINDO O SEU TEXTO ANA. AMEI!!! tá melhorando e melhorando bem

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