quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Guia de como sobreviver ao fim de um namoro (para mulheres)


Conversando com uma amiga pelo MSN que está triste porque seu namoro terminou, resolvi montar um guia de como sobreviver ao fim de um namoro, casamento ou qualquer tipo de relacionamento amoroso:



Não chore na frente dele: chorar, na minha humilde opinião, é uma das maneiras mais baratas e clichês de se chantagear alguém que está terminando com você. Claro que é importante expressar seus sentimentos, mas faça isso no seu canto, onde ninguém possa ver suas fraquezas e quão triste você está.

Seja orgulhosa: se por acaso alguém terminou com você e depois de um tempo se arrependeu e pediu pra voltar, NÃO VOLTE! Uma vez que o relacionamento terminou ele nunca mais será o mesmo. Você sempre vai desconfiar de alguma coisa e nunca mais vai conseguir relaxar, pois vai achar que a qualquer minuto ele poderá terminar tudo outra vez.

Não corra atrás: suas amigas dizem que "se o namoro vale a pena, então você deve batalhar por ele?" É balela. Elas não devem fazer idéia do quão humilhante isso é. Nada de ligar no meio da madrugada chorando dizendo que teve um sonho com ele. Não mande cartas, e-mails, não pergunte dele pros amigos íntimos... isso só vai aumentar ainda mais o ego do rapaz. Ele vai pensar que é a coisa mais importante da SUA vida e automaticamente você estará em suas mãos. Além do mais: se foi ele que terminou, então se rolar algum sentimento de arrependimento tem que vir DELE. ELE é que deve procurar você loucamente, rastejar aos seus pés e fazer de tudo pra voltarem.

Não tente ser amiga dele: a pior atitude que você pode ter depois que um relacionamento acaba é vocês resolverem ser amigos. Por mais que tenha terminado numa boa, esse lance de "nunca vamos perder o contato" é mentira. Daqui alguns meses, os dois (ou só ELE, o que é pior ainda) vai ter engatado um lance com outra ina e você acaba de passar para o segundo plano. Segundo plano não: você acaba de ser jogada no limbo. Ele nunca mais vai querer saber de você, nunca mais vai te ligar (nem ao menos pra fazer um remember) e tudo o que ele dizia quando vocês estavam juntos de que "você é a mulher da minha vida" vai se tornar insignificante, uma vez que ele vai dizer AS MESMAS COISAS... só que pra ELA!

Não acredite em tudo que ele te diz: se ele fala que está com saudades, nada de se derreter toda e já planejar como vai ser quando vocês reatarem. Provavelmente ele disse isso porque já estava acostumado com a sua presença no dia-a-dia e agora que não estão mais juntos, sente falta só da sua pessoa. Ou pior ainda: ele diz isso porque quer comer você algumas vezes enquanto ele não arruma uma outra parceira fixa.
Outra coisa importante: ele te pede pra não ficar com ninguém por enquanto porque ele vai fazer o mesmo. Daí você se priva de conhecer um monte de gente nova (e interessante, e bonita, e legal) porque acha que ele também está curtindo uma fossa e pensando em você. Que garantia você tem disso? NENHUMA. Ele dizer que não quer que você fique com ninguém porque sentiria ciúme, é apenas um eufemismo que mostra o quanto ele é machista e egoísta.

Perca totalmente o contato com ele: delete de Orkut, Facebook, pare de seguir no Twitter e PRINCIPALMENTE: DELETE do MSN. Não bloqueie. DELETE. Bloqueando fica mais fácil de cair na tentação de desbloqueá-lo para "eventualmente" falar um Oi. Se você fizer isso e eventualmente ele for seco na resposta, sua tristeza aumentará ainda mais e vai se mais um dia que você passará chorando.
Esse contato inclui querer saber o que ele está fazendo. Aconteceu comigo quando meu namoro terminou. Eu e ele frequentávamos os mesmos lugares. Um dia ele foi pra uma balada e ficou com uma menina. Claro que tinha um monte de conhecidos meus por lá que viram e no dia seguinte vieram me contar. Eu fiquei mega chateada e foi desnecessário saber disso. Então, controle sua vontade de investigar a vida do cara.

Exorcismo amoroso: Escute todas as músicas que lembram ele de uma só vez; releia todas as cartas que ele te escreveu, veja fotos, scraps que ele costumava te deixar, mensagens no celular... TUDO! E chore... chore MUITO enquanto estiver fazendo isso. Faça isso quando estiver sozinha em casa sem ninguém por perto pra te amparar ou dar conselhos. Chore até perder as forças, até ficar com o rosto inchado a ponto de ficar igual ao Fofão. Depois disso, guarde as fotos, as lembranças, as cartas, as músicas num lugar bem fundo, escondido e de difícil acesso E fique um bom tempo sem ter acesso a nada disso. Mas provavelmente você precisará fazer esse exorcismo mais de uma vez, mas todas as vezes que fizer pense "essa será minha última fossa". Você vai se impressionar que conforme o tempo for passando, esses rituais se tornarão cada vez menos freqüentes.

Lavagem cerebral não existe: já assistiu "Brilho eterno de uma mente sem lembranças"? Então eu aposto que você adoraria que existisse um tratamento daqueles. Que permitiria você nunca mais lembrar o nome dele, os momentos maravilhosos que passaram juntos, seus telefones, endereço... certo? Pois é, eu também iria adorar um tratamento daqueles e possivelmente faria caso existisse algo semelhante. Pois é, mas NÃO existe. Então não adianta você pensar: aaaai, porque não dá pra esquecer tudo? Se lamentar não adianta nada, NADA! Sofra o quanto tiver que sofrer, chore o quanto tiver que chorar... MESMO! Porque uma hora, por mais desesperada que você esteja no momento, essa dor VAI PASSAR. Não sei quando, não sei como, mas vai passar.

Amigas: elas adoram dar conselhos na sua vida e no término do seu relacionamento, né? Legal, ao menos você sabe que não está sozinha e se precisar chorar no ombro de alguém. Elas vão te distrair, te levar pra passear e vão escutar tudo o que você tem a dizer. Mas algumas dessas amigas podem querer dar conselhos demais. Exemplo: você resolveu ir pra balada com elas e tem um cara MUITO MARAVILHOSO querendo ficar com você. Mas você ainda não se sente pronta pra beijar outra pessoa. Só que a sua amiga acha que você TEM QUE ficar com ele, só assim vai esquecer o ex. Se você não está pronta, NÃO FIQUE! Além do arrependimento que vai te bater depois, vai acabar fazendo algo que na verdade não queria e por isso vai culpar a amiga e acabarão brigando. Saiba filtrar os conselhos que te servem e aquilo que VOCÊ quiser realmente fazer. E se por acaso acontecer algo parecido que aconteceu comigo (sua amiga viu ele com outra pessoa) e ela vier com aquele papo: você nem sabe quem eu vi ontem, responda: se você está falando DELE eu não quero saber.

Take your time: não se force a nada, NADA. Mais uma vez: sofra o quanto precisar sofrer. Não fique e/ou transe com ninguém só porque levou um fora e precisa disso pra provar que é superior a ele. Só faça baladas quando se sentir PRONTA para isso. Não se exponha na Internet e aproveite esse tempo que você está sozinha pra prestar mais atenção em você mesma.
Você vai descobrir coisas que nem imaginava...













(Digamos que resolvi escrever esse guia pra que EU MESMA possa ler de vez em quando e tentar não cometer os mesmos erros que eu venho cometendo desde que comecei a ter relacionamentos sérios)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Aprendeu a lição?

E aí Ana Clara. Será que depois de 3 ou 4 vezes passando pela mesma situação você finalmente vai aprender que as pessoas NÃO MUDAM? Que esse papo de que todo mundo merece uma segunda chance é a maior mentira do mundo?

Você já tinha passado por algo parecido quando seu primeiro namorado veio te procurar 3 anos atrás. Você no fundo sabia que aquilo tudo ia dar merda, mesmo com todas as coisas bonitas que ele te falava, os restaurantes e jantares chiques que ele te levou e as frases do tipo: me arrependi, eu mudei, dessa vez vai dar certo. Você acreditou, foi deixando se levar e aí o que aconteceu? Depois de só 3 semanas que ele tinha te procurado, ele fez com você EXATAMENTE o que fez da primeira vez.
Você se lembra do quanto chorou né? Do quanto ficou mal, sofrendo e se odiando por ter dado uma chance praquele sociopata de merda. Depois que tudo passou, o que você disse pra você mesma? Que as pessoas não mudam e se deu errado uma vez, vai dar errado pra sempre.

Aí passaram-se 3 anos e o que aconteceu com você? A MESMA COISA, só que com uma pessoa e uma situação diferente. Mesmo depois dessa pessoa ter falado que ia voltar com a ex namorada; mesmo você ter xingado ele de tudo quanto foi nome e mesmo você sabendo que ele era um cara confuso isso não te impediu de reatar com ele depois que ele te procurou.
Desde o começo você tava desconfiada, sabia que ia ser difícil ele reconquistar sua confiança... vocês já tinham brigado (na verdade, você brigou com ele) por ciúme seu da ex-namorada, ele já tinha cantado a bola: vai ser mais difícil do que pensei. Mas mesmo assim você continuou nessa. Continuou investindo num relacionamento que na verdade nunca existiu. Deu presente, se preocupou, se entregou fisicamente. E o que você teve em troca? NADA! Apenas uma conversa no MSN, acho melhor a gente parar de se ver, não vejo mais você como outra coisa além de amiga, depois eu te devolvo suas coisas e tchau. EXATAMENTE o que aconteceu nesse MESMO ano de 2010 só que em Janeiro. Mesmo depois das inúmeras sessões de terapia, mesmo depois de ter passado alguns meses longe de você... ele simplesmente NÃO MUDOU. E não vai mudar NUNCA!




Mas e aí? Você vai ficar mal por tudo isso, vai chorar sem ao menos saber o porquê e depois o que vai restar?
Você se apaixonar pelo primeiro imbecil que aparecer na sua frente só porque tá se sentindo carente?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Notas de um término doloroso parte final


O dia 11 de agosto de 2008 seria decisivo para C. e ela sabia disso. Depois de tudo que ela viu na noite anterior; depois de ter chorado até perder as forças mais uma vez; depois de ter empapado o travesseiro com lágrimas de desespero e tristeza ela sabia que teria que tomar uma decisão a respeito do seu já fracassado namoro. No fundo, ela sabia que fim - literalmente - aquela história toda daria. Mas ela não queria aquele final. Ela queria outro. Ela queria que J. dissesse que queria tentar mais uma vez e que seria MESMO diferente.

Ele tinha respondido seu depoimento: eu to te chateando muito. Vamos conversar hoje e resolver nossa situação. C. sabia que aquilo era como um discurso de abertura antes do gran finale: vamos terminar. Tanto que passou o dia chorando, arrasada, sem saber o que fazer, o que dizer e o que pensar. As horas se arrastavam como se estivessem presas à uma imensa bola de ferro. Ele não tinha ligado no seu celular. “Se ele não me ligar, eu não vou atrás”, decidiu C. Afinal era ELE quem queria encontrar para conversar. C. só queria passar uma semana escondida, pensando.

Ele só deu sinal de vida no final do dia. Mandou um sms: podemos nos encontrar na faculdade? Ela respondeu: estarei na praça de alimentação lendo um livro a partir de tal hora. Me encontre lá se quiser. A mesma praça de alimentação onde ele havia dado a aliança para ela com aqueles olhinhos cheios de ternura e algo bem próximo a amor. Será que o cenário do início de toda aquela história também seria o cenário do fim?

Ele sentou na frente dela. C. estava com um livro de marketing aberto e na frente dela, algumas folhas de caderno rabiscadas. Estava tentando passar a ansiedade fazendo um resumo, mas ele não se demorou e logo estavam frente a frente. A praça de alimentação estava lotada e barulhenta. Ao lado deles, um grupo de universitários jogavam animadamente Guitar Hero. C. invejava-os. Aliás, ela invejava todo mundo que naquele momento estava feliz de verdade. C. se sentia tão triste, tão desamparada que se ela pudesse apertar um botão e se desligar de vez, ela teria feito isso.

- Me responde uma coisa. Por que você estava sem a aliança nas fotos?

- Você sabe que eu nunca usei aliança dentro de casa. E no fim das contas, eu estava atrasado, acabei saindo correndo e esqueci de colocá-la no dedo.

- Olha no fundo dos meus olhos e me diz que você não ficou com ninguém esse fim-de-semana.

Era uma pergunta idiota a se fazer naquele momento. Mesquinha, até. Ela não tinha que se preocupar com traição. O namoro já estava ruim há muito tempo. Ela deveria se preocupar em como eles resolveriam aquilo da maneira menos dolorosa possível. Se é que havia essa maneira.

- Não. Não fiquei com ninguém. Eu não fiz isso na maldade.

- Ta bom.

Silêncio entre os dois. Ela queria falar, mas não sabia o QUE falar. COMO falar. Ele, como sempre ficava quieto. Só o som infernal da praça de alimentação.

- Vamos sair daqui, ta muito barulho e eu mal consigo te ouvir.

Sentaram um do lado do outro num canto de uma escada em algum lugar daquele campus enorme da faculdade. Aí foi a vez dele falar.

- Não dá mais. Você tem se magoado por minha causa e eu não quero mais namorar. Ta insustentável tudo isso e precisamos terminar.

Pronto. O veredicto foi dado. Tudo aquilo que ela mais temia em escutar e ao mesmo tempo queria ter coragem pra dizer. Ela sabia que isso ia acontecer uma hora ou outra. Era ISSO o que ela queria ter dito a ele meses atrás, quando seus sentimentos estavam menos machucados. C. engoliu a seco e respondeu:

- Tudo bem. É o melhor que a gente faz.

Eles ainda ficaram mais um bom tempo conversando. C. tentou ao máximo não chorar nem demonstrar muitos sentimentos. Era muita chantagem emocional barata chorar na frente do seu agora ex-namorado.
Caramba, como esse pensamento doía. O cara mais lindo do mundo. Mais especial, carinhoso, que tinha absolutamente tudo a ver com ela e que dizia que a amava tanto... agora era seu ex namorado. E a banda que eles tinham em comum? Ela resolveu que iria continuar mas que a partir do momento que aquilo começasse a machucá-la, iria pular fora. Ele concordou. Não queria terminar brigados, com raiva um do outro. Ela ainda tentou argumentar. Se desarmou completamente dizendo tudo aquilo que sentia; seus medos e suas aflições; seus desejos e o quanto estava triste com tudo aquilo.

Voltaram juntos da faculdade pela última vez. Desceram juntos na mesma estação de metrô da última vez. E pela última vez ela o acompanhou até a porta do seu ônibus. Se abraçaram e ele disse no seu ouvido:

- Por favor, não me odeia.

As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Ele tentou olhar nos seus olhos, mas ela abaixou a cabeça. Olhando para sua mão, tirou a aliança do seu dedo. J. tentou fazer o mesmo com ela, mas ela não deixou e disse:

- Elas vão ficar comigo. Tchau.

E foi assim que tudo terminou. C. entrou dentro do ônibus que a levaria para casa. As lágrimas agora corriam fartas pelas suas bochechas. Tudo aquilo que ela não tinha chorado na frente dele, iria fazê-lo agora.
Ela sabia que iria sofrer muito. Sabia que aquele sentimento de vazio iria tomar conta dela. O que ela não sabia é que iria durar mais tempo do que ela poderia aguentar...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Notas de um término doloroso parte II


Ela voltou para São Paulo depois de mais outro dia melancólico e triste. Dias assim estavam fazendo parte de sua vida. Mesmo assim ela não conseguia se acostumar de jeito nenhum. Na verdade, ela pensava: o certo da vida não é a gente se acostumar à coisas boas, que façam bem pra gente? Como que eu posso me acostumar a essa montanha de sentimentos ruins?

Ligou para ele mais uma vez. Ela não sabia que essa seria a última vez que ligaria para sua casa como namorada. Ela também não sabia por que ainda ligava. Era totalmente perceptível no tom da sua voz que ele não estava a fim de conversar. Talvez não com ela em específico. Mesmo assim, insistindo no erro, ligou. Não ficaram mais do que 15 minutos no telefone. Foi praticamente um monólogo. Ele mal participava, não interagia:
- como foi o show lá?
- foi legal.
- e o dia dos pais?
- foi ok
- você não ta muito a fim de conversar né?
- não muito.

E foi com essa frase que ela resolveu encerrar seu papel de ridícula, de menina desesperada que não sabe perceber em que momento o namoro ACABOU. Mais uma vez triste e amargurada, sentou na frente do computador. Viu que ele estava online, chamou no MSN mas nada; nem uma resposta. Ele saiu sem nem ao menos dizer boa noite. Pior que isso: postou fotos do show que sua banda tinha feito no dia anterior e para a surpresa de C. em todas as fotos ele aparecia SEM ALIANÇA. Sem aquele presente que ELE MESMO deu para ela no dia que estava fazendo 2 meses que tinham se conhecido. Bons tempos eram aqueles em que os dois estavam apaixonados um pelo outro. Toda vez que C. se lembrava daqueles tempos, sua tristeza aumentava ainda mais, se é que isso era possível.
Tudo que C. queria era poder voltar naqueles tempos, no começo do seu namoro onde ele a tratava como uma rainha, rasgava-se em elogios, carinhos e juras de amor. C. não conseguia entender: como que um namoro poderia se transformar... naquilo? E do nada? Como que J., que nos primórdios do namoro dizia que C. era tudo aquilo que ele sempre procurou e só tinha encontrado quando eles se conheceram e agora a tratava com tanta indiferença, com tanta frieza?

Quando viu àquelas fotos, C. estava se sentindo como se alguém estivesse sufocando-a. As lágrimas tentavam se esconder, pois dessa vez ela não estava sozinha. E ela não queria começar a chorar na frente da sua mãe ou de seu irmão mais uma vez pelo MESMO motivo. "A partir do momento que o namoro te faz mal C., você tem que terminar isso logo. Um relacionamento serve para nos deixar feliz e não triste", era o que sua mãe sempre lhe dizia. E aquilo estava fazendo mal fazia alguns meses. E ela continuava dando murros em ponta de faca, provando o quão masoquista uma pessoa pode ser em nome do "amor".
Era quase meia noite quando ela ligou no celular de J. Queria tirar satisfações sobre ele ter ido tocar sem a aliança. Será que ele já tinha terminado com ela e não tinha sido informada? Nada; ele não atendia. Não iria ligar na sua casa NAQUELA HORA. Tentou mais 2 vezes. Sem resposta. Acabou por mandar um depoimento no Orkut que dizia mais ou menos assim:

"Eu vi as fotos do show e que você tocou sem aliança. Você conseguiu me magoar de vez. Quero um tempo essa semana pra poder pensar no que vou fazer."

E foi para seu quarto vazio, frio. Foi empapar mais uma vez sua fronha com as lágrimas que estavam se tornando cada vez mais amargas. Seria outra noite longa, sem sono profundo e com os pesadelos mais horríveis.

(Continua)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Notas de um término doloroso parte I


Toda vez que chega no mês de Agosto, mais especificamente décimo primeiro dia desse mês, C. fica mais melancólica, quase que triste.
Ela sempre se lembra do que aconteceu nesse dia, nesse mês dois anos atrás.

Em 2008, o dia 11 caiu numa 2ª Feira. E no fim-de-semana anterior à esse dia, ela tinha passado 3 dias seguidos chorando, afundada numa tristeza e agonia que parecia não ter fim. Que a sufocava desde abril daquele mesmo ano. As lágrimas e o coração acelerado por medo de alguma coisa dar errado já eram rotina na sua vida pacata, sem graça e arrastada. Eram 5 meses de dúvidas, inseguranças, angustia, tristeza, esperança, medo. 5 meses que ela sabia que precisava tomar uma decisão que mudaria completamente o rumo de sua vida. Ela sabia qual era a decisão a tomar, qual seria a mais certa tanto para ela quanto para ele... mas ela não tinha colhões para isso. Preferia empurrar todos esses sentimentos ruins a eliminar o causador de tudo isso de uma vez por toda de sua vida.

No sábado, 9 de agosto C. passou o dia trancada dentro de casa, sozinha. Sua mãe tinha ido visitar seu pai. Ainda bem que ela estava sozinha. Pois assim poderia chorar tudo o que queria chorar, na desesperada tentativa de eliminar aquela dor no peito que ela sentia. Uma dor tão forte e tão real que parecia que ela poderia pôr a mão. Fazia muito frio, chovia constantemente e o sol não tinha dado as caras. Era o tempo perfeito para curtir uma fossa.
Tentando recuperar seu namoro, ela tinha ligado para J. convidando-o para almoçar. Ele ia tocar com sua banda em outra cidade à noite; ela tinha um aniversário para ir e no Domingo não daria tempo de se encontrarem. Ele não quis almoçar com ela. Estava frio ao telefone, não deu a mínima. Nem quando ela começou a choramingar no outro lado da linha. “Não quero chorar na frente dele”, ela pensou. Sempre achou que chorar na frente do namorado era uma chantagem emocional barata que só servia para que ele pisasse ainda mais em cima dos seus sentimentos. Quando pôs o telefone no gancho, as lágrimas aumentaram de intensidade, assim como a chuva lá fora. Querendo desabafar com alguém, ligou pra sua amiga:
- por favor, vem aqui em casa. Não sei mais o que eu faço.

Sua amiga veio. Elas conversaram e C. ouviu mais uma vez que precisava ter forças para terminar esse namoro que mais parecia um elefante pesando 89 toneladas. C. ficava cada vez mais desesperada quando ouvia esses conselhos. Ela SABIA que precisava pôr um fim nisso tudo. Mas o que ninguém parecia entender era que ela simplesmente não tinha CORAGEM para isso.

C. e sua amiga foram ao aniversário à noite. Foi bom, porque ela dançou a noite toda, deu risada e por ora conseguiu esquecer tudo de ruim que estava acontecendo na sua vida. Mas no momento que entrou no táxi de volta pra casa, todos os fantasmas que ela tinha exorcizado voltavam a assombrá-la. O domingo de dia dos pais não foi o suficiente para que ela esquecesse tudo. Sua tia fez a pergunta que não deveria ter feito:
- e aí, e o namorado?
- meu namoro ta uma bosta, tia. Nem queira saber.

(Continua)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração


Acabei de ler uma matéria no Terra que um amigo meu revoltadíssimo tuitou. Vou colar a matéria e em negrito, minhas observações a respeito. Para ler a matéria sem meus comentários, clique aqui

~*~

Eles têm entre 18 e 25 anos, são universitários e se uniram a partir de um manifesto virtual, batizado de "São Paulo para os paulistas". A iniciativa, que começou com a voz solitária de uma jovem indignada diante da proposta de inserção da cultura nordestina na grade curricular de escolas da capital do Estado, foi ganhando adeptos e, em poucos meses, já contava com mais de 600 adesões, demonstrações de apoio expressas em assinaturas numa petição online.

Escolhido como porta-voz do grupo por ter um discurso mais moderado e menos conservador, o estudante Willian Godoy Navarro, 22 anos, conversou com Terra Magazine. Nitidamente preocupado em dosar as palavras, ele falou sobre as pretensões do movimento, que tem entre os principais objetivos discutir a questão da migração e a suposta subvalorização da cultura paulista, preterida, segundo o universitário, em função do espaço que culturas "estrangeiras" conquistaram em São Paulo.

-Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, "culturas do Nordeste". Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste - afirma, garantindo que a preocupação do grupo não se dirige, especificamente, aos migrantes dessa região do país.

O universitário conta que a sondagem na internet foi apenas uma etapa inicial. O plano agora é criar o Movimento Juventude Paulistana, uma organização com "personalidade jurídica", que, a exemplo dos ativistas ambientais do Greenpeace, pretende buscar visibilidade por meio de atos públicos.

-A gente vai fazer alguma coisa na Ponte Estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo - adianta, sem, no entanto, revelar detalhes.

Confira a entrevista

Terra Magazine- Como surgiu a ideia do manifesto?
Willian Godoy Navarro - A ideia do manifesto surgiu por conta de algumas leis que ainda estão em discussão na Câmara, na Assembleia Legislativa, que defendem a aplicação de uma disciplina nas escolas públicas em relação à cultura nordestina. Isso desencadeou o movimento, porque não existe uma promoção da cultura paulista. Os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constititucionalista de 1932.
Então, a Fabiana (uma das integrantes) criou a petição, jogou na internet e conseguiu a adesão. Foi formado um grupo. Dezenas jovens apoiam e se mobilizam na internet para divulgar. Foram se conhecendo pela internet. A petição está há poucos meses no ar e já tem mais de 600 assinaturas.

O que vocês pretendem exatamente?
A gente quer levantar a discussão. Não apoio a petição. Há uma discussão interna. Acredito que a petição é ousada demais, muito radical. A gente não pode fazer uma petição como se São Paulo fosse um Estado independente.

A petição dá a ideia de que há uma intenção separatista. Não há um consenso no grupo?

Existe um movimento separatista, que é o MRSP, Movimento República de São Paulo, mas a gente não faz parte. A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil. Na passeata de 9 de julho, conversamos com eles. É um movimento organizado. São centenas de jovens em todo o Estado. Tem sede em Ribeirão Preto, Sorocaba, Campinas, Santos, São José dos Campos e na cidade de São Paulo. Geralmente, são de famílias italianas. Também são grupos de universitários.


Mas o que vocês objetivam com esse manifesto?

Criar uma influência. Agregar outros jovens que tenham o mesmo interesse em discutir os temas de sua cidade. A gente está trabalhando agora de forma diferente. Vamos criar um grupo de jovens, o Movimento Juventude Paulistana. A migração deve ser discutida e deve ser criticada, mas uma crítica construtiva.

(simplesmente soltar frases do tipo: essa baianada que vem povoar a minha cidade ou então: tinha que ser nordestino não leva a nada. Eu concordo com ele quando a migração deve ser discutida de maneira construtiva. A cidade tem ficado cada vez mais caótica por que? Porque tem havido um crescimento da população desenfreado e a gente não tem mais estrutura pra isso. Mas só ficar reclamando sem pensar na raíz do problema não adianta nada)

No manifesto, há um trecho que fala em "migração predatória". Você concorda com o termo?
Não concordo. O que acontece é que não houve uma política migratória, nada que pudesse planejar isso. O que houve? São Paulo cresceu desde a década de 1970 pra cá, graças à migração. Isso é fato. São Paulo hoje é uma potência com a força de trabalho que os migrantes trouxeram para o estado. O que acontece é que, hoje, a cidade não consegue mais absorver essa migração que ainda continua. Não há nenhum tipo de política pública para administrar isso. As pessoas têm o direito de ir e vir, mas tem que haver uma política que pudesse trabalhar com elas.

(praticamente a mesma coisa que eu comentei acima. Eu não sou contra a migração. Mas lógico que deveria ter um controle. Uma pessoa de outro estado quer vir trabalhar aqui? Ótimo. Mas antes da gente receber "de braços abertos" deveriam existir leis parecidas como quando você vai morar em outro país. Tem emprego certo aqui? Aonde? Quanto tempo vai durar? Você já tem onde morar? Ótimo, então seja bem vindo a São Paulo. Do que simplesmente a cidade receber uma caralhada de migrantes que vem aqui tentar a sorte. E se dá errado, acontece o que? Vira mendigo? Vai morar em favela ou em região com ocupação irregular?)

Vocês são a favor de iniciativas que estimulam o retorno de migrantes ao local de origem?
Imagina só: um migrante que tinha um trabalho na área agrária, rural. Ele vem para uma cidade, sem qualificação, sem estudo, sem preparo. Ele não tem base para se manter nessa cidade. Se ele sempre trabalhou no meio rural, o que vai fazer na cidade? Ninguém pensou nisso.

(mais uma vez eu concordo com ele. Se para uma pessoa nascida aqui mesmo que teve condições de estudar em bons colégios, fez uma boa faculdade, é bem qualificado para o mercado de trabalho e mesmo assim encontra sérias dificuldades em arrumar um emprego, o que uma pessoa que morou a vida inteira num lugar no meio do nada vai conseguir aqui em São Paulo? Não é questão de ser preconceituosa e sim apenas coerente. Se a cidade oferecesse estudo de graça de QUALIDADE para essas pessoas que, sei lá queiram estudar aqui, ótimo, acho louvável. Mas todo mundo sabe que a educação pública daqui é caótica e poucos podem PAGAR uma boa instituição de ensino).

Então você apoia essas iniciativas?
Sim, é uma questão humanitária. Para você ter uma ideia, tem uma pesquisa que diz que 84% dos moradores de rua que vivem no Centro de São Paulo são migrantes. É aquela mesma história. Vêm para São Paulo, não são absorvidos, não têm amparo público e acabam vagando pela cidade. O custo de vida em São Paulo é alto. Acredito que seja um dos mais altos do pais. Já é difícil para um paulistano, que constrói uma carreira, comprar, financiar um apartamento ou uma casa, imagina para o migrante que consegue ganhar um salário mínimo por mês e tem uma família para sustentar?

(de novo: a cidade não tem estrutura direito nem pra quem é nascido aqui ou no Estado, que dirá pra alguém que vem de fora com pouca - ou nenhuma - instrução? Aqui é literalmente a selva de pedra, onde todo mundo quer te eliminar e se você não tem um pingo de digamos, malícia, acaba literalmente na sarjeta)

Lendo o manifesto, notei que o movimento tem uma particular preocupação com os nordestinos...
Não existe essa preocupação particular. Mineiros, nordestinos, mato-grossenses, paulistas que vieram do interior para a capital. Todos.

(ele quis ser eufemista, mas todo mundo sabe que a maioria dos migrantes que vem pra cá são nordestinos. Por que? Porquê eles tem poucas condições lá. Uma pessoa do sul ou mesmo de Belo Horizonte dificilmente vem pra cá. E vamos combinar: o preconceito contra nordestinos existe sim! Como bem resumiu meu pai: só tem que tomar cuidado pra não virar preconceito assumido. Porque ele já existe, só não é institucionalizado)

Mas, inicialmente, você comentou que a petição foi desencadeada pelos projetos de lei que defendem o ensino da cultura nordestina nas escolas.
O que desencadeou foi exatamente isso. Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, "culturas do Nordeste". Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste.

(por mais que seja muito importante o paulistano ter um aprendizado do seu país como um todo, nossa cidade é meio que esponja. Aqui a gente encontra de tudo, de todas as culturas de todas as regiões do Brasil e do mundo. Então, a gente vai absorvendo essa quantia imensa de informações e acabamos perdendo um pouco da nossa própria identidade)

É por isso que vocês falam no manifesto: "O paulista olha ao seu redor e se vê um estrangeiro em sua própria terra"?
A Fabiana foi muito ousada, colocou palavras bastante fortes nesse manifesto. Por isso que vamos mudá-lo. E a gente não vai mais fazer isso pelo meio virtual. A gente vai utilizar essa influência que conseguimos para fazer algo oficial mesmo. Uma organização que vai ter uma personalidade jurídica. Vai ser algo com uma representatividade mais concreta.

Nesse primeiro momento, o manifesto virtual serviu para saber se haveria aceitação?
Foi um estudo para a gente sentir como seria a aceitação. Falar da migração sempre é um tabu. Sempre alguém vai se sentir prejudicado. A gente estava discutindo ontem para falar com você hoje. A gente não pode falar da migração. São Paulo foi construído por imigrantes e migrantes. O que tem que acontecer é uma administração, um controle.

(o que eu já escrevi lá em cima. Regulamentação, leis para a migração. Pra que essa cidade - e não só São Paulo, qualquer grande capital onde tem um grande fluxo de migração - não vire uma festa do oba oba, crescimento desenfreado sem o mínimo de controle)

Como assim "um controle"?
Não existe controle. Não controle. Controle é uma palavra muito forte. Mas nenhuma política que pudesse organizar a migração. Não só de nordestinos, mas de todos que vêm para São Paulo ou para outra cidade. A gente tem quase um milhão de pessoas na cidade de São Paulo que não conseguem emprego, que moram em favelas ou em áreas com más condições de moradia. A gente não tem estrutura para absorver a migração. Essa mão-de-obra, essa força de trabalho que continua vindo para São Paulo poderia desenvolver outras áreas do país. A gente se preocupa com o futuro da cidade.

(não só se preocupar com o futuro da cidade mas sim do país como um todo. Eu concordo com o meu amigo quando ele disse que o certo não é expulsar os migrantes que estão aqui. Tanto que eles não dizem isso em nenhum momento, em nenhum lugar. Até porque seria meio absurdo você chegar em alguém que já mora aqui há algum tempo e dizer: oi, você está sendo convidado a se retirar da nossa cidade. O certo mesmo é dar oportunidades pra que essas pessoas possam crescer na vida dentro de seu próprio estado. Por isso acho esse manifesto importante: pra abrir os olhos de todos o brasileiros e do governo, pra que eles possam investir em capitais em potencial. Não só aqui. Acho que seria uma ótima oportunidade de desenvolverem áreas mais abandonadas, como o próprio Nordeste. O manifesto não é puro e simplesmente de paulistanos burgueses idiotas, como disse meu amigo)

Vocês do movimento consideram que a migração provoca sobrecarga no sistema de saúde e impactos nos índices de violência?
Seria hipócrita se dissesse que não. A maior parte das pessoas que utiliza o SUS na cidade de São Paulo são migrantes. Agora, não que esse seria o problema. Em relação à violência, é também bastante contestado. O cara vem, mora na periferia, não tem emprego, não tem nenhuma base. Vai trabalhar no mercado informal ou arranjar outro meio. Mas as vezes há outras situações que fazem com que parta a criminalidade.

Vocês falam de xenofobia no manifesto. "Se um migrante adentra em uma região, e desrespeita seus costumes, não respeita a diversidade. Pretender modificá-los, moldá-los a si, impôr os próprios, forçar os anfitriões a aceitar a descaracterização, são atos de 'Xenofobia'". Quero que você comente esse trecho do manifesto.
Quem escreveu foi a Fabiana, mas acredito, que ela quis dizer que está sendo forçada a inclusão de uma cultura diferente. Não sei se você vai concordar comigo, mas tem uma característica bem peculiar. É muito diferente da cultura paulista, como a cultura paulista é diferente da cultura carioca. Quando existe qualquer ato de promoção da cultura dos paulistas é visto como preconceito.

(da mesma maneira como é preconceito um branco usar uma camiseta escrito: 100% branco. Por que um negro pode usar uma camiseta 100% orgulho negro sem ser considerado preconceituoso? Por que querer que os paulistanos dêem mais atenção à sua própria cultura é preconceito? Eu acho que quando um migrante ou até mesmo um IMIGRANTE vai morar em outro lugar diferente daquele seu de origem, ele deve no MÍNIMO respeito à cultura local. Chegar aqui e achar que aqui é Goiânia, Fortaleza ou Rio de Janeiro é muita falta de respeito com uma cultura que levou séculos para ser construída)

O que seria um ato de promoção da cultura paulista, por exemplo?
Por exemplo, existem mais pessoas que vão para a semana cultural nordestina, na Zona Norte, no Cambuci, onde há um centro de cultura nordestina, do que as que foram à passeata em 9 de julho, que é um marco para o Estado.

Então, na sua opinião há uma subvalorização da cultura de São Paulo?
Isso mesmo. Quem é o responsável? O governo e a prefeitura que incentivam isso. O problema é o seguinte: a maior parte do eleitorado que promove eles (políticos) são migrantes.

(eu não sou contra um migrante querer ser eleito a algum cargo político. Mas acho que nesse caso também deveria haver uma regulamentação: um mato grossense quer ser vereador da nossa cidade? Então vamos ver há quanto tempo ele mora aqui em São Paulo. Talvez estabelecer um tempo mínimo de sei lá, 25 anos. Um tempo suficiente pra que ele conheça todos os problemas da cidade, tenha idéias concretas para solucioná-las. Do que adianta eleger alguém que mal conhece o estado/cidade que ele quer representar?)

Especificamente, nordestino?
Sim, basicamente sim.

E, na visão de vocês, eles acabam elegendo representantes de origem nordestina...
Entendeu nosso ponto? O pessoal fala muito de outras culturas, mas qual é a cultura daqui? Ninguém fala.

No manifesto, vocês dizem que São Paulo cresceu sem receber dádivas do Brasil.
Certo.

Vocês dizem: "São Paulo não deve nada ao Brasil, portanto, o usufruto desse trabalho deve ser para o povo paulista".
Por exemplo, São Paulo é o estado que mais arrecada impostos, que mais produz. A gente não recebe nem um terço do que produz. Esse déficit orçamentário no Estado não permite que o governo trabalhe na habitação, na infra-estrutura, no saneamento, na educação e na saúde. A gente é prejudicado. O dinheiro dos impostos, das industrias e do povo de São Paulo é revertido para outros Estados, ao invés de ser aplicado novamente aqui.
Recife, Salvador recebem mais investimentos do Governo Federal do que arrecadam. A capital do Piauí, Teresina, é um exemplo disso. Isso é um absurdo, sendo que a gente tem problemas de transporte público em São Paulo. O transporte público aqui é terrível. Muitos falam que a migração foi responsável pelo avanço, mas São Paulo sempre foi rica. Sempre foi desenvolvida. E foi com a força do trabalho dos migrantes também. Mas não só dos migrantes, mas de todos os paulistas.

No manifesto, vocês dizem que os "migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil. Seja desmentida tal falácia". Você acha que isso é realmente uma falácia?
Essa parte do manifesto não li, mas o entendimento é o seguinte: quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes...por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto? As pessoas dizem: "Ah, os migrantes construíram São Paulo". Construíram com sua força de trabalho, mas se não fossem os investimentos e o dinheiro que gira na cidade, não teriam construído nada.

(aqui eu discordo só um pouquinho: acho que o crescimento de São Paulo foi feito sim pelo trabalho braçal dos migrantes, mas esse trabalho sem os investimentos de grandes empresários, essas construções civis não existiriam. Então acredito que nossa cidade cresceu - e cresce na soma das duas coisas)


Vocês têm noção do teor polêmico da causa que defendem?

É muito polêmico. É o que falei para a Fabiana. "Não se pode falar da migração. No Brasil, não se pode falar, porque todos são". Parte do manifesto não apoio. A gente vai estudar uma nova forma de aplicar um manifesto cabível para a realidade e para a necessidade de São Paulo.

(é polêmico porquê como eu já escrevi aqui: o preconceito existe, mas ninguém tem coragem de tornar isso público, como eles estão fazendo. A repórter se vocês perceberem, o tempo todo meio que trata como absurdo tudo o que eles estão divulgando, como se eles fossem politicamente incorretos. Mas tenho certeza que essa mesma repórter algum dia já reclamou algo do tipo: esse bando de baiano povoando a cidade, puta merda. A verdade é sempre polêmica)

Então, o manifesto que está na internet vai ser reformulado?
Vai ser reformulado. Vamos utilizar a influência conquistada com esses meses de trabalho. A gente vai fazer algo oficial agora, que vai ser o Movimento Juventude Paulistana. Vai ter um site e tudo mais.


E qual o objetivo do Movimento Juventude Paulistana?

Levantar esse assunto, mas de forma coerente. A gente vai tentar fazer com que ele seja discutido com a sociedade. Se a sociedade não tiver interesse em discutir a migração, a gente não discute. A gente vive em um país democrático e tem que expressar nosso ponto de vista. Há outros milhares de paulistanos que apoiam nossa ideia. A gente vai tentar levantar isso com a sociedade.

(é importante que esse manifesto não entre na cabeça pequena de alguns ignorantes como movimento separatista, como preconceito ou então com idéias fascistas do tipo: nós paulistanos somos melhores, por isso vamos expulsar todos os migrantes daqui. Acho bem coerente eles quererem discutir tudo isso de uma maneira não-polêmica, fazer com que as pessoas pensem um pouco a respeito de tudo que foi dito)

Como?
Como o Greenpeace chama a atenção? Ele faz uma passeata com 100 mil pessoas ou faz um ato que atrai a mídia. O ato. É isso que a gente vai fazer.

Já há algo planejado?
Não posso dizer. A gente vai fazer alguma coisa na ponte estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo. Se os paulistas não tiverem interessados em debater, a gente não vai debater. Queremos, pelo menos, criar uma oportunidade. Existe uma comunidade de São Paulo no Orkut. E eu levantei o tema. Foi só para fazer uma pesquisa mesmo. Muita gente falou mal, veio apedrejando. Em cada 10 pessoas, dois apoiavam. Se em cada 10 paulistanos, dois apoiarem, a gente vai ter, numa cidade de 10 milhões, 2 milhões. E isso é muita gente. Então, queremos pegar esses jovens, essas pessoas que querem mudar São Paulo, mudar não, pelo menos, melhorar.

(aqui eu já discordo. Aliás, como já disse aqui no meu blog um dia, eu sou contra essas manifestações públicas que param avenidas, praças, vias importantes da cidade causando trânsito, transtorno e irritação nas pessoas. Ao invés de chamarem a atenção de uma forma positiva, vão fazer isso de uma maneira negativa. Acho que eles deveriam pensar em outras formas de divulgar esse manifesto)


Na primeira etapa, vocês querem levantar a discussão sobre a migração, mas o que vem depois?
Depois disso, vamos planejar. Eu entrei agora. Eu decidi falar, porque eles são muito conservadores. Eu disse: "Não seria interessante se vocês falassem agora. Vamos mudar o discurso". Da forma radical que eles estão criando, não vão conseguir apoio de ninguém.

A ideia é abrandar o discurso para conseguir adesão, não impactar tanto?
A gente está utilizando métodos de publicidade, de promoção e de marketing, estudo de teses de algumas pessoas, que a gente está elaborando, para poder montar o movimento. A gente quer fazer algo que conquiste o maior número de pessoas possível.Estamos conseguindo adesão de algumas pessoas com influência. A gente tem o presidente de um centro acadêmico de um curso na USP.

Qual curso?
Ele não me deu autorização para falar.

Mas vocês querem manter o anonimato?
Ele quer.

Não faz muito sentido. Se vocês querem dar visibilidade ao tema, soa incoerente.
Ele está representando a comunidade japonesa. É descendente. E tem outras pessoas que trabalham com ele. Eu, do Centro Acadêmico da UNIP, outros de outras instituições. Anhembi-Morumbi... A gente está pegando pessoal da UNINOVE também, da Barra Funda. É um movimento de universitários.

Quantas adesões vocês já tiveram. As pessoas que se agregaram através da internet se encontram?
Todos as mais de 600 adesões (assinaturas na petição virtual) foram muito comprometidas e decididas, se possível, a apoiar. As pessoas que assinaram realmente têm interesse em participar e sempre geram soluções e ideias para que a gente possa melhorar o nosso plano. A gente tem 600 jovens que, a qualquer momento, se estiverem disponíveis, vão participar. Tem uma menina que veio de Campos do Jordão para conhecer a gente. Ainda mais agora. A gente tem 100 pessoas na cidade de São Paulo, que assinaram o manifesto, que estão dispostas a conversar, a entrar na reunião. E temos mais 600 pessoas do movimento separatista.

Onde vocês pretendem chegar?
Nossa meta é que isso seja discutido na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal. A gente quer que seja implantada algum tipo de política que possa administrar isso (migração). Que fale: "vocês não têm qualificação, então, vão fazer um curso de qualificação e ser alocados para outras áreas do Estado que oferecem mais oportunidades. As pessoas que vivem em São Paulo e querem, mas não têm condições de voltar para a terra de onde fugiram... A cidade gerar essa oportunidade para elas. O pouco que a gente conquistar para uma cidade como São Paulo vai ser bastante.

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Essa discussão ainda vai dar muito pano pra manga. Mas se você ler direito, vai ver que é bastante coerente muitas coisas que eles dizem. E com certeza, você já pensou dessa maneira, ao menos uma vez na vida.