terça-feira, 7 de agosto de 2012

Notas de um sábado qualquer

Mais um sábado na vida dessa que vos escreve. Um sábado calorento - totalmente fora do contexto da estação regente, o 'inverno' - com direito a compras na José Paulino seguida de uma longa e dolorosa sessão de tatuagem.

Tatuagem essa que foi feita num famoso estúdio tanto de tatuagem (claro) quanto para ensaios de bandas. O Nimbus, que fica ali na Lapa, pertinho do Metrô Barra Funda.
Mas eu não estou aqui pra fazer propaganda do estúdio ou do tatuador (que por sinal é fodido no que faz) e sim pra registrar minhas impressões durante as duas horas que fiquei sentada na cadeira, enquanto as agulhas rasgavam minha pele imprimindo um desenho que de lá nunca mais sairia.

Fiquei sentada num local privilegiado, de frente para as portas de um dos estúdios de ensaio e com visão também para a porta de entrada e saída do local.
E durante as duas horas em que lá fiquei, eu presenciei:

- um tiozão que não parava de sair de uma das salas que estava rolando um ensaio e indo até a recepção comprar mais uma long neck de Heineken. Usando bermuda cáqui, camisa pólo listrada de azul e branco - por dentro da bermuda, logicamente - e que eventualmente adentrava o estúdio de tatuagem pra meter a carona no meio do trampo do pobre tatuador perguntando coisas imbecis do tipo: dói fazer tatuagem?
E como boa filha de psicóloga que sou, que ama observar as pessoas e criar histórias para essas mesmas pessoas, já logo pensei que provavelmente ele devia ser pai de um dos moleques que estavam ensaiando. E possivelmente a quantidade de brejas compradas devia ser pra ele mesmo, que estava de saco cheio de passar o sábado INTEIRO esperando por seu filho.

- não só vi esse tiozão indo pra cá e pra lá, como vi muitos outros na mesma pegada coxa do primeiro. Alguns assistiam aos Jogos Olímpicos na televisão que ficava na recepção do estúdio enquanto outros ficavam dentro das salas de ensaio. Será que eles também eram pais esperando por seus filhos?

- pude também escutar algumas músicas que eram ensaiadas. As músicas de sempre: Holy Diver, Smoke on the water, Rockin' the free world e aquela encheção de lingüiça dessas bandas que fazem cover de classic rock em um barzinho qualquer da Vila Madalena ou da 13 de Maio. Tão boring...

- entre uma agulhada e outra, vi chegarem outros integrantes de outras bandas chegarem, carregando seus instrumentos, pedestais, caixas, bumbos, pratos, cases de guitarra e baixo, alocando todo seu arsenal musical na recepção, esperando que as salas de ensaio vagassem para que eles pudessem entrar e fazer seu som.

- vi as namoradas dos integrantes dessas mesmas bandas chegarem junto deles. A maioria com aquele aspecto de resignadas e de saco cheio por terem que acompanhar MAIS UM ensaio do seu namorado. Fiquei com dó, de verdade delas. Certeza que o último lugar em que elas gostariam de estar num sábado ensolarado e agradável como aquele era dentro de um estúdio de ensaio, com suas paredes grossas e seu ar-condicionado no talo. Aposto 1 real que elas preferiam estar em casa vendo TV. Ou com o namorado no cinema, no parque, no motel... em QUALQUER LUGAR menos lá.
Aposto que elas todas já sabem a porra do set list de cor, o que torna ter que acompanhar o ensaio, um processo ainda mais moroso.
Na HORA me lembrei da época que namorava um cara que também tinha banda. Naqueles tempos eu até me divertia e fazia questão de ir nos ensaios. Porque ia toda orgulhosa, pra tirar foto, fazer vídeos e enfim... porém, pensando nos dias de hoje, minha paciência pra esse tipo de atividade em casal é -10.

- juro que vi uma das namoradas descritas acima chegando segurando uma camisa masculina num cabide. O namorado dela era meio gordão, então certeza que ele levou a camisa pra poder trocar depois do ensaio, pois ele deve suar tanto, mas tanto, que dá até pra torcê-la depois que terminam suas atividades como músico.

- mas o melhor momento foi na troca de bandas. As que estavam ensaiando a horas dando lugar para as que estavam chegando. Uma das bandas era toda composta por moleques que deviam ter no máximo seus 20 anos, usando bandanas na cabeça, camisetas de banda e saindo do ensaio com aquele olhar de: sou super rockstar, me invejem! Claro que eles estavam acompanhados de suas respectivas namoradas, porém essas com uma expressão mais feliz, provavelmente pensando: sou foda, namoro um cara que tem banda.

E depois de duas horas sentada naquela cadeira, observando tudo isso, a tattoo finalmente ficou pronta.
E eu saí do estúdio com a sensação de já ter visto esse filme antes. Seja com o irmão que tem banda, com o pai que tem banda, com o ex-namorado que tinha banda ou comigo mesma, que costumava ter banda.

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