domingo, 23 de maio de 2010

Desabafo

Meu pai mora num apartamento num bairro da zona Sul que fica bem próximo a uma favela chamada Favela do Vietnã. Desde 2003. E desde 2003 que em alguns (ou todos) os finais-de-semana a gente sofre quando o povo "da comunidade" resolve fazer festa. É festa de natal, festa junina, festa de dia das crianças ou simplesmente eles montam um palco, vão uns MC's e rola a madrugada IN-TEI-RA!!!
Não incomodaria, se por acaso o apartamento em que ele mora é virado pro lado dessa favela. Ou seja: 3 da matina, a festa rolando solta e parece que os caras tão DENTRO DO MEU QUARTO fazendo a zona.

Ontem a noite não foi diferente. Quase 4:00 da manhã e tinha um maldito de um "cantor" de funk carioca, enchendo a paciência. Dava prá ouvir EXATAMENTE o que ele dizia. Coisas do tipo: Comando Vermelho, ganhando dinheiro traficando drogas, quem é virgem levanta a mão, me dá sua periquita e outras coisas NOJENTAS, ASQUEROSAS que esse maldito "estilo musical" prega. Minha única solução prá conseguir dormir foi pegar meu iPod, colocar os fones de ouvido (sempre eles que me salvam) e ficar escutando Depeche Mode no talo, até a hora de eu pegar no sono pesado.
Antes disso, meu irmão e eu ficamos imaginando diversas situações catastróficas que poderiam acontecer: um raio caindo no meio da favela, matando todo mundo. Um helicóptero da Polícia Militar metralhando de lá de cima todo mundo e eu finalmente podendo dormir em paz, o capitão Nascimento e seu batalhão do BOPE vindo com tudo prá cima desses filhos da puta e acabando com a zona. Pensei até mesmo no Hulk pistoeando em cima da cabecinha deles e pronto, cabou. Sem favela, sem festa, meu sono tranqüilo de volta.

Eu pouparia esse texto sobre o quanto eu acho funk carioca a coisa mais infernal do mundo, mas não vou poupar, porquê o título dessa postagem é justamente DESABAFO. As letras são machistas e o pior de tudo: tem mulher que GOSTA. Tem mulher que grita, rebola e senta no pau de desconhecido enquanto os caras falam vem aqui minha gostosa, vou te maltratar e gozar na sua garganta, vai potranca, vai potranca. Depois, quando a mulher apanha do marido/namorado não sabe porquê. Na hora da festa, tudo é permitido, né? Se comportar feito uma puta de quinta categoria é legal. Mas aí depois que termina o baile, o cara acha que pode levar ao pé da letra o que o MC tava pregando lá no palco e trata a mulher como ela se comportou: como uma vaca, puta, biscate.
Isso sem falar nas letras que fazem apologia ao crime, armas, tráfico de drogas, PCC, Comando Vermelho e sei lá mais o quê. Depois o índice de criminalidade, assassinato, estupro, chacina, seqüestro relâmpago aumenta e ninguém sabe o motivo, né? Fico imaginando aquela mãe de 20 anos, que engravidou com 18 levando seu filho pequenininho nessas festas e ele ouvindo - pior, ABSORVENDO - esse tipo de informação. O que será que esse moleque vai ser quando crescer?

Isso sem contar o fato de o nosso querido prefeito Gilberto Kassab alterar a lei do PSIU.
De acordo com texto do site do Jornal Estado de São Paulo:
"Entre as alterações previstas na nova lei estão a redução do valor das multas e a mudança no local da medição, que agora passa a ser feita na construção ao lado do estabelecimento "barulhento". Além disso, denúncias anônimas não são válidas, pois a ação será feita na presença do denunciante, do denunciado e de testemunhas." (para ler o texto completo, clique aqui)


Ahn sim: houve um ano em que eu chamei a polícia. Era de madrugada, muito frio e eu não aguentava mais aquele som na minha cabeça. Eles vieram, eu desci na portaria do prédio e o que me foi informado era que "eles tinham autorização da prefeitura e do PSIU prá realizar a festa e que eles não poderiam fazer nada". Minha vontade foi de virar e falar: porquê vocês não assumem que tem MEDO de entrar na favela e serem baleados? Fica mais digno prá vocês, seus merdas. Claro que fiquei quieta, pois se fizesse isso ainda seria presa por desacato a autoridade. Autoridade? Quem é a autoridade ali? Eles ou os malditos favelados festejando?

4 comentários:

  1. Meu, é quase uma selva... a gente que fica puta com esse tipo de coisas ainda é taxado de preconceituoso e por ai vai. Brasil né mana... Brasil.

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  2. Pois é, Branca.
    A crítica adequada é sempre oportuna e bem vinda. Reclamar com consciência é ótimo e isso você faz bem feito, mesmo quando ultrapassa o limite da raiva (quem não ultrapassa, né?).
    A abordagem sobre o tipo de comportamento que essa espécie de "música" (música?), pode provocar aos incautos expostos a esse tipo de baixaria foi "cirurgica". Vamos semear essa discussão, acho que vale à pena. Juro que nem vou me importar se em outras noites eu não conseguir dormir, desde que o povo um dia abra os olhos e acorde. Acho que é sonhar demais, né?

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  3. "Eles ou os malditos favelados festejando? "


    E essa frase não é nada preconceituosa,né?

    É bom parar para pensar que todo o resto das pessoas que moram na favela e não estão na festa,possivelmente tbm sofrem com o barulho,inclusive muitos dos "malditos favelados",trabalham de sábado e domingo.

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  4. Sou morador da maior favela de São Paulo e sofro com a porra do barulho que tem aqui e forro e funk meu Deus, pior quando e ao vivo aff... você ainda pode chamar a policia pra saber o que pode ser feito, aqui se chamar e expulso ou morto, muita gente de fora que nem mora aqui passa a noite aqui, consumindo drogas e mijando na porta dos outro os becos amanhecem um horror. Pra dormir eu uso um tapa ouvidos, muitos moradores usam. gosto musical cada um tem o seu. quanto ao barulho quanto mais alto for o volume, maior e a falta de RESPEITO.

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