quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Notas de um término doloroso parte final


O dia 11 de agosto de 2008 seria decisivo para C. e ela sabia disso. Depois de tudo que ela viu na noite anterior; depois de ter chorado até perder as forças mais uma vez; depois de ter empapado o travesseiro com lágrimas de desespero e tristeza ela sabia que teria que tomar uma decisão a respeito do seu já fracassado namoro. No fundo, ela sabia que fim - literalmente - aquela história toda daria. Mas ela não queria aquele final. Ela queria outro. Ela queria que J. dissesse que queria tentar mais uma vez e que seria MESMO diferente.

Ele tinha respondido seu depoimento: eu to te chateando muito. Vamos conversar hoje e resolver nossa situação. C. sabia que aquilo era como um discurso de abertura antes do gran finale: vamos terminar. Tanto que passou o dia chorando, arrasada, sem saber o que fazer, o que dizer e o que pensar. As horas se arrastavam como se estivessem presas à uma imensa bola de ferro. Ele não tinha ligado no seu celular. “Se ele não me ligar, eu não vou atrás”, decidiu C. Afinal era ELE quem queria encontrar para conversar. C. só queria passar uma semana escondida, pensando.

Ele só deu sinal de vida no final do dia. Mandou um sms: podemos nos encontrar na faculdade? Ela respondeu: estarei na praça de alimentação lendo um livro a partir de tal hora. Me encontre lá se quiser. A mesma praça de alimentação onde ele havia dado a aliança para ela com aqueles olhinhos cheios de ternura e algo bem próximo a amor. Será que o cenário do início de toda aquela história também seria o cenário do fim?

Ele sentou na frente dela. C. estava com um livro de marketing aberto e na frente dela, algumas folhas de caderno rabiscadas. Estava tentando passar a ansiedade fazendo um resumo, mas ele não se demorou e logo estavam frente a frente. A praça de alimentação estava lotada e barulhenta. Ao lado deles, um grupo de universitários jogavam animadamente Guitar Hero. C. invejava-os. Aliás, ela invejava todo mundo que naquele momento estava feliz de verdade. C. se sentia tão triste, tão desamparada que se ela pudesse apertar um botão e se desligar de vez, ela teria feito isso.

- Me responde uma coisa. Por que você estava sem a aliança nas fotos?

- Você sabe que eu nunca usei aliança dentro de casa. E no fim das contas, eu estava atrasado, acabei saindo correndo e esqueci de colocá-la no dedo.

- Olha no fundo dos meus olhos e me diz que você não ficou com ninguém esse fim-de-semana.

Era uma pergunta idiota a se fazer naquele momento. Mesquinha, até. Ela não tinha que se preocupar com traição. O namoro já estava ruim há muito tempo. Ela deveria se preocupar em como eles resolveriam aquilo da maneira menos dolorosa possível. Se é que havia essa maneira.

- Não. Não fiquei com ninguém. Eu não fiz isso na maldade.

- Ta bom.

Silêncio entre os dois. Ela queria falar, mas não sabia o QUE falar. COMO falar. Ele, como sempre ficava quieto. Só o som infernal da praça de alimentação.

- Vamos sair daqui, ta muito barulho e eu mal consigo te ouvir.

Sentaram um do lado do outro num canto de uma escada em algum lugar daquele campus enorme da faculdade. Aí foi a vez dele falar.

- Não dá mais. Você tem se magoado por minha causa e eu não quero mais namorar. Ta insustentável tudo isso e precisamos terminar.

Pronto. O veredicto foi dado. Tudo aquilo que ela mais temia em escutar e ao mesmo tempo queria ter coragem pra dizer. Ela sabia que isso ia acontecer uma hora ou outra. Era ISSO o que ela queria ter dito a ele meses atrás, quando seus sentimentos estavam menos machucados. C. engoliu a seco e respondeu:

- Tudo bem. É o melhor que a gente faz.

Eles ainda ficaram mais um bom tempo conversando. C. tentou ao máximo não chorar nem demonstrar muitos sentimentos. Era muita chantagem emocional barata chorar na frente do seu agora ex-namorado.
Caramba, como esse pensamento doía. O cara mais lindo do mundo. Mais especial, carinhoso, que tinha absolutamente tudo a ver com ela e que dizia que a amava tanto... agora era seu ex namorado. E a banda que eles tinham em comum? Ela resolveu que iria continuar mas que a partir do momento que aquilo começasse a machucá-la, iria pular fora. Ele concordou. Não queria terminar brigados, com raiva um do outro. Ela ainda tentou argumentar. Se desarmou completamente dizendo tudo aquilo que sentia; seus medos e suas aflições; seus desejos e o quanto estava triste com tudo aquilo.

Voltaram juntos da faculdade pela última vez. Desceram juntos na mesma estação de metrô da última vez. E pela última vez ela o acompanhou até a porta do seu ônibus. Se abraçaram e ele disse no seu ouvido:

- Por favor, não me odeia.

As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Ele tentou olhar nos seus olhos, mas ela abaixou a cabeça. Olhando para sua mão, tirou a aliança do seu dedo. J. tentou fazer o mesmo com ela, mas ela não deixou e disse:

- Elas vão ficar comigo. Tchau.

E foi assim que tudo terminou. C. entrou dentro do ônibus que a levaria para casa. As lágrimas agora corriam fartas pelas suas bochechas. Tudo aquilo que ela não tinha chorado na frente dele, iria fazê-lo agora.
Ela sabia que iria sofrer muito. Sabia que aquele sentimento de vazio iria tomar conta dela. O que ela não sabia é que iria durar mais tempo do que ela poderia aguentar...

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